Tem sido assim nos últimos dias, e vai saber até quando: greve de ônibus e de sol por aqui, greve de sossego por lá, terminal cheio, previsão de tempo ruim, violência de um lado e do outro, tanto confronto que, se estivesse vivo, o católico apostólico romano pagão e filho de Iemanjá Carlinhos Oliveira talvez voltasse a sugerir aquele levante que um dia deu até crônica.
Sua ideia era, digamos deste modo, a de uma greve etílica, tomar um porre caso ninguém amparasse seus coitados, os infelizes prediletos que ele, como a gente também de vez em quando, dava preferência quando quer zangar com o mundo. Se seus queridos desgraçados continuassem queridos e desgraçados, ele danaria a beber e, quando estivesse por cair de álcool e tristeza, gritaria a uma autoridade:
– Doutor, meus pobres estão morrendo; um menino no morro da Fonte Grande não tem comida; uma viúva em Maruípe está com o corpo cheio de perebas, e não tem onde se tratar; oitenta famílias de Jucutuquara, doutor, famílias de operários e contínuos de repartição pública chegam ao fim do mês com meio quilo de farinha e nada mais; aquilo tem que dar até o dia do pagamento. É por causa disso que eu bebo. Se eles não forem auxiliados, não pararei de beber nunca mais.
Então vai ver o brasileiro por fatalidade, temperamento e vocação Carlinhos Oliveira [que a bem da verdade não precisava de grandes pretextos para beber] bebesse ainda mais nestes dias. Por amor e convicção, por todos, por todo o tempo que fosse preciso e em nome da paz que anda faltando nos últimos dias, e vai saber até quando.
Carlinhos Oliveira foi das melhores leituras que já fiz. E a qual ainda recorro. Caótico, devastado pelo álcool, amicíssimo dos amigos, amado pelas mulheres que não resistiam a um certo ar de desamparo. Capixaba, mas 100% carioca. Belíssima lembrança.
Bjs.
Gosto muito também.
beijo, obrigada, Caio.