– Está dizendo isso a sério? – perguntou.
– Desde que nasci – disse Florentino Ariza – não disse uma única coisa que não fosse a sério.
O comandante olhou Fermina Daza e viu em suas pestanas os primeiros lampejos de um orvalho de inverno. Depois olhou Florentino Ariza, seu domínio invencível, seu amor impávido, e se assustou com a suspeita tardia de que é a vida, mais que a morte, a que não tem limites.
– E até quando acredita o senhor que podemos continuar nesse ir e vir do caralho? – perguntou.
Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.
– Toda a vida – disse.
(Gabriel García Márquez, O Amor nos Tempos do Cólera)
[…] As Crônicas Parisienses de Rubem Braga, ao contrário, são agorinha mesmo, exatos cem anos depois do nascimento do homem que evitava ouvir tangos porque acreditava que um tango, a certa altura, podia ser fatal. Vejo Londres na biografia amarga de Charles Chaplin, cinza e implacavelmente necessária, Londres e a loucura, Londres e o riso, Londres e a revolução. Vejo a Cidade Alta, e não a Colômbia, no ir e vir do caralho que Florentino Ariza e Fermina Daza protagonizam durante cinquenta e três an…. […]
[…] todas num único instante. A Colômbia que Diego Giraldo via como um jogo de futebol e onde Florentino Ariza e Fermina Daza andaram naquele ir e vir do caralho por cinquenta e três anos, sete meses, onze dias e respectivas noites não consta no dicionário […]
[…] a décima oitava semana da existência. Respira e vai, colecionando dias e respectivas noites como Florentino Ariza em sua longa espera por Fermina Daza – cinquenta e três anos, sete meses e onze dias, para ser exato como o grande Gabito em sua […]