Acordei pensando nos dogons, aquele povo que vive na África ocidental e acredita ter nascido com uma quantidade determinada de palavras na barriga. Durante a vida, os dogons gastam o verbo guardado dentro com os amores, os amigos, a oposição, os discursos, os irmãos e os vizinhos. Um dia, quando o estoque acaba, eles morrem. Morrem em silêncio, porque não têm absolutamente mais nada pra dizer.
São camponeses, artistas, feiticeiros e também grandes conhecedores da astronomia e do início de todas as coisas. Vivem com apenas 40 centímetros de chuva por ano e temperaturas de até 60 graus centígrados, entre casas de pedra e barro cobertas de folhas que ajudam a amenizar o calor escaldante e pequenos celeiros que armazenam os grãos, as espigas de milho, as cebolas, o amendoim, o algodão e o fumo que produzem.
Descendem dos habitantes de um planeta que orbita ao redor da estrela Sírius e que teriam aterrissado na Terra em eras remotas, inaugurando a civilização. Transmitem suas tradições de geração em geração e realizam rituais para a estrela que acreditam ser a origem de tudo, e ainda me espanta o fato de a concepção de vida de um povo inteiro começar e terminar do mesmo jeito: no silêncio.
Ponto pra eles.
[…] encontrar numa canção, num filme, no futebol ou no trânsito a razão daquela atitude, daquele silêncio, da distância que nem todo o amor do mundo consegue reverter, das indecisões alheias, de quase […]
[…] sempre que possível, simplicidade, movimento, abraço, planos para o futuro, óculos para longe, silêncio, gargalhadas, encontros e […]