(um texto de janeiro)
Há quem diga que o tempo anda passando rápido demais, que o ano voou, que outro dia era o século passado, que o mundo de agora gira mais rápido que o de antes e em breve estaremos no carnaval, depois futebol, eleição, feriados, junho, julho, agosto, primavera, Natal e, outra vez, acabou-se. Há quem diga que o tempo parece estar com pressa. A Física nega, garante que aconteceram mais ou menos tantas coisas em 2009 quanto nos anos anteriores e que a percepção contrária que temos não se aplica às leis de Einstein e companhia.
A Física defende que existem duas maneiras de perceber o tempo e a rapidez (ou não) do seu passar. No tempo psicológico – a primeira das duas maneiras, segundo o físico Marcelo Gleiser em A Pressa do Tempo -, as coisas acontecem uma depois das outras, sucessivamente. Os números ajudam a contá-las e colocá-las em ordem e a lembrança, antes de tudo, nos faz saber que elas de fato existiram. Logo, a percepção do tempo depende basicamente da memória.
Se nossas memórias desaparecessem por completo, voltaríamos a perceber o mundo como bebês, com dias imensamente longos e lembranças sendo acumuladas diante das novidades da vida, o rosto da mãe depois os outros, as cores e depois os sorrisos, as canções de ninar e depois as outras, as alegrias e, um dia, as decepções. O resumo da ópera: quanto mais coisas temos para descobrir e mais memórias para criar, mais devagar percebemos a passagem do tempo.
No tempo físico é diferente. Um segundo, a unidade universal de tempo para a humanidade, são 9.192.631.770 oscilações entre dois níveis do átomo de césio-133, desde sempre, há 13,7 bilhões de anos. O presente vira passado, o futuro vira presente e deste modo seguimos. Então seguimos um dia com a impressão de que falta espaço na agenda pra dar conta do mundo e no outro com a ideia de que o passar dos dias ensina mais que primário, médio, graduação e MBA juntos. Então seguimos um dia com a compreensão dos excessos e no outro com o desejo de voltar atrás para consertar os amores que deram errado, dormir o sono dos justos, pedalar pelo campo, escrever poemas, talhar rostos desconhecidos em madeira nobre ou nem.
Então seguimos assim, movidos pelo tempo dos físicos, pelo tempo dos sentimentais, pelo tempo da delicadeza. Tempo substantivo masculino, período contínuo e indefinido no qual os eventos se sucedem, distância, espaço, objeto, intervalo, definição, teoria. Tempo que são 9.192.631.770 oscilações entre dois níveis do átomo de césio-133, há 13,7 bilhões de anos. Tempo que há quem diga que anda passando rápido demais, ano que voou, século passado que era ontem, mundo que gira mais rápido que o de antes e daqui a pouco estaremos no carnaval, depois futebol, eleição, feriados, junho, julho, agosto, primavera, Natal e, outra vez, acabou-se.
A questão que sempre levanto é: e o que faremos dessas experiências, das descobertas, das memórias e dos afetos? Ao morrermos, tudo será poeira espalhada por alguns poucos familiares e amigos, e essa poeira será cada vez mais rara geração após geração – e então nada mais dela restará.
Ando melancólico, é verdade.
é… mas sempre ficam coisas da gente por aí, e coisas dos que se vão ficam com a gente, pelo menos por um tempo. tá bom já, não acha?
Acho…
[…] dia de ler o físico meio poeta, astrônomo escritor roteirista que defende que os cientistas podem provar com experiências as […]
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[…] presença de uma massa, seja ela o Sol, a gente ou uma bola de tênis, deforma o espaço e afeta a passagem do tempo; quanto mais matéria, maior a curvatura do espaço e mais lenta a passagem do […]
[…] espécies à sobrevivência diária minha, sua e de todos nós. Ressalta que tem certeza de que a Física precisa de simetrias e deve continuar a usá-las em suas pesquisas. Mas derruba a tese segundo a […]
[…] às vezes são as palavras, às vezes é a beleza, a justiça, a arte, um olhar fundo ou então o tempo, ele e mais nada, um santo remédio posto a serviço das digestões, das cicatrizações, das […]