Tem histórias que começam com dia e hora para terminar, um fim evidente e anunciado como a saída pelos fundos do político que nem devia ter entrado, a vitória do Botafogo naquele passado ou a morte de Santiago Nasar. Seus desfechos são definitivos como as cicatrizes, tristes como os sábados de chuva e marcantes como as escolhas difíceis, mas imprescindíveis como os afetos, a música, o chocolate e algumas presenças. Acabam porque precisam acabar, às vezes depois de mais tempo do que deviam.
Tem histórias, ao contrário, que parecem destinadas a durar para sempre, mesmo que não sejam. Seus enredos são divertidos como os dias de sol, felizes como a noite do último sábado, ritmados como aquele samba com ginga, compasso, melodia e harmonia sorrindo no bar da esquina, intensos como os encontros que não se explicam porque não precisam de explicação. Começam de um modo tão suave e seguro que dão a impressão, levinha, de estar protegidas de todo o mal, todo desentendimento, toda raiva e todo apego.
As primeiras acabam com um indiscutível ponto final, determinado pelos gramáticos e pela linguagem das metáforas como sinal indicativo de que, de fato, não há mais nada depois. As ao contrário terminam (quando terminam) com um vacilante ponto e vírgula, inventado com o nobre objetivo de separar partes do período, orações coordenadas que formem antíteses e frases extensas que dificultem a compreensão e a respiração; ou de indicar histórias que terminam, quando terminam, sem tempestades ou grandes tragédias.
Tem histórias que terminam sem que a gente perceba que terminaram. Para elas, a língua portuguesa oferece reticências, um ponto, o outro e por fim o terceiro, para dizer que não se sabe o que vem depois e nem de que maneira vai [se é que vai] acabar. Quase sempre aparecem extra-oficialmente e da mesma maneira somem, em silêncio, sem conversa derradeira, sem mensagem raivosa, sem choro, vela, aviso prévio ou comunicado oficial, apenas o benefício da dúvida, se acabou mesmo ou ainda há, se sobrou sentimento ou a fonte secou, se – eles de novo – ponto final, ponto e vírgula, vírgula ou nem.
[Quando a gente tem certeza que uma história dessas realmente acabou?]
Delas sabemos pouco, apenas que são fluidas, deliciosamente fluidas. São movimento, riso, sonho, madrugada, desejo, saudade, cinema, futebol, pizza, jazz, samba e blues, sofá da sala e depois cama, cozinha e depois varanda, abraço apertado, meia dúzia de implicâncias, duas doses de álcool [às vezes três] e – porque precisa, para acabar – um pouco de música.
“Quando eu sai da tua vida
Bati a porta
Saí morrendo de medo
Do desejo de ficar…”
Com reticências, é claro.
[não consegui responder pelo twitter, então vamos por aqui…]
“””mesmas””” – assim, com várias aspas, porque ninguém é igual a ninguém, ainda menos nas entrelinhas. por outro lado, eu leio você e, por vezes, sinto Lucinda. é essa coisa “cotidiano-acaso-pé-de-muleque-bar-da-esquina”, assim, misturado, entende? é um pouco do gosto que eu sinto quando leio vocês. ainda mais agora que as duas colunas ficaram mais perto entre os dias.
[…] parte dois By Ana Laura Nahas Era tarde, e até alguns dias antes ainda doía o vazio do ponto final daquela […]
[…] e as saudades, as madrugadas em si são feitas igual, de vazios e faltas, o músico canta o ponto final dele [ponto e vírgula, talvez] sob a ótica um pouco do querer e outro pouco [ou então muito] do pensar. A menina que sempre ri […]
[…] outras, com personagens diversos e cenários mais ou menos trocados, mas o músico cantava ainda o ponto final dele sob a ótica um pouco do querer e outro pouco do pensar e, do mesmo modo, havia aquela […]